Por Franklin Mira, CEO da Téssera Hospitality. Artigo publicado na edição de junho 2023 da revista Bahia Econômica.
Todos os macro indicadores do setor hoteleiro apontam para níveis de ocupação superiores ao período pré-pandemia em 2023. A análise atenta dos dados de demanda-oferta, precificação e distribuição colhidos na nossa atuação em Inteligência de Mercado ( Revenue Management) permite a percepção, com alguma antecedência, das tendências e perspectivas do mercado hoteleiro.
O cenário geral pede uma visão cautelosamente otimista quando examinado de forma mais profunda. De acordo com os dados fornecidos pelo Observatório do Turismo e pela ABIH, no mês de fevereiro de 2023, a taxa de ocupação dos meios de hospedagem de Salvador foi de 68,00% com uma variação positiva em relação ao mesmo mês do ano anterior, que registrou uma taxa de 58,40%. Esses números demonstram uma melhora significativa da frequência de turistas na capital baiana.
Também positivo no período foi o número de passageiros nos principais aeroportos da Bahia (Salvador, Ilhéus, Porto Seguro e Vitória da Conquista), de 760.105, representando um aumento de 10,15% se comparado ao mesmo mês do ano anterior. No que se refere aos voos internacionais, no mês de fevereiro foram registrados 24 voos da TAP (Salvador – Lisboa), 22 voos da Aerolineas Argentina (Salvador – Buenos Aires), 04 voos da GOL (Salvador – Buenos-Aires), 04 voos GOL (Salvador – Montevideo) e 08 voos da Air Europa (Salvador – Madri).
Ainda assim, muitos fatores levantam questões importantes para o setor no ano de 2023 e para o futuro. O turismo internacional no Brasil e na Bahia é bastante incipiente – há muito anos o Brasil fica oscilando entre 6 e 7 milhões de turistas estrangeiros, isso incluindo nossos vizinhos, principalmente da Argentina em férias no sul do Brasil. Para termos uma ideia do quão distante estamos dos destinos mais procurados no mundo, a França recebe mais de 117 milhões de turistas ao ano.
Questões como segurança, infraestrutura e mão de obra dificultam mais ainda e nos deixa em condições inferiores para competir com países melhor estruturados. Para acrescentar, podemos incluir a decisão política recente de cobrar de países a reciprocidade do visto, o que tornará a tarefa de atrair turistas estrangeiros mais difícil, como por exemplo o público americano, nosso segundo mercado emissor atrás apenas da Argentina.
Por isso, dificilmente teremos algum bônus decorrente do aumento do fluxo internacional de turismo, na verdade o Brasil é um dos grandes emissores internacionais com transferência expressiva de renda para a Europa e Estados Unidos. Os gastos de brasileiros no exterior ficaram em US$ 1,246 bilhão em janeiro de 2023, de acordo com o BC (Banco Central). O resultado é 80,5% superior ao registrado no mesmo período de 2022, quando os brasileiros gastaram US$ 690 milhões.
Mercado doméstico se recupera e incrementa o setor
Assim, seguramente o que irá garantir o nosso turismo a curto prazo será o mercado doméstico. O mercado nacional vem se recuperando e o fluxo dos aeroportos demonstra isso, mas outros fatores influenciam significativamente a demanda e oferta turística. O Booking Pace (velocidade média das reservas individuais entre a data da reserva e a data de chegada) sugere uma queda de aproximadamente de 40% no mês de março de 2023 quando comparado ao mesmo período do ano de 2022. Isso sinaliza que as pessoas estão mais cautelosas.
Toda a insegurança gerada por indefinições políticas, questões econômicas como inflação e falta de unidade sobre os instrumentos para combatê-la, acrescido da instabilidade mundial com agravamento das relações entre as principais potências globais com consequências imprevisíveis sobre o mercado financeiro e nas políticas macroeconômicas e industriais, como por exemplo a reorganização das cadeias produtivas que podem elevar a inflação global, tornam o cenário ainda mais imprevisível.
Apesar desses impactos desfavoráveis, para o bom planejamento hoteleiro é essencial pensar as especificidades de cada destino. Por exemplo, o Nordeste parece ter sido mais impactado com o aumento das passagens aéreas do que o Sudeste, que tem melhorado seu volume de vendas nos resorts, segundo dados da STR, empresa mundial de pesquisa no setor. Isso deve ser um ponto de atenção para a hotelaria de lazer nordestina e da Bahia.
Oportunidades do turismo baiano
Ao mesmo tempo existem diversas oportunidades para o turismo na Bahia. Uma das tendências mais fortes para o turismo em 2023 é o aumento da procura por destinos naturais e de aventura. Muitos viajantes estão buscando experiências autênticas e conexão com a natureza, tornando destinos como praias, cachoeiras, parques nacionais e trilhas de caminhada cada vez mais populares. Além disso, a busca por experiências sustentáveis e eco-friendly também deve aumentar, à medida que os viajantes se tornam mais conscientes do impacto ambiental do turismo.
Outra tendência importante é a adoção de tecnologias e soluções digitais para melhorar a experiência do turista. A pandemia acelerou esse processo com check-in e check-out online e outras soluções digitais que ajudaram a minimizar o contato físico e a aumentar a segurança dos viajantes. Essa tendência deve continuar com a implementação de soluções mais avançadas, como inteligência artificial e realidade aumentada, para melhorar a experiência do turista e tornar a viagem mais eficiente e conveniente.
De acordo com RIMT (Rede de Inteligência de Mercado no Turismo) em sua revista Digital Tendências do Turismo em 2023 as principais macro tendências que surgem no horizonte são as Viagens Regenerativas (atenção à sustentabilidade e a preocupação com as comunidades locais), Nomadismo Digital (a possibilidade de trabalhar e viajar), Viagem com propósito (buscar atuar para beneficiar comunidade por onde passamos), Bleisure (aproveitar negócios com lazer e promover estadias mais longas), Slow Travel (viagens mais longas e transquilas), Turismo de Experiência (busca de vivências marcantes com culturas locais).
Da mesma forma existem micro tendências que precisam ser observadas como Turismo Urbano (viver mais a cidade, sua cultura, museus e história), Melhor Custo Benefício (buscar alternativas com mais valor agregado e com custos compatíveis serão cada vez mais considerados na tomada de decisão), Viagens Off Season (procurar períodos fora do pico para promover uma experiência mais intensa e com custos mais atrativos), Viagem nostálgica (a tematização de lugares e empreendimentos que retomem períodos vividos no passado) entre outras.
A Bahia com todas as peculiaridades e características únicas pode, com planejamento público e privado, se alinhar às tendências demandadas pelo mercado. Para isso é imprescindível tomar ações imediatas para a promoção da marca Bahia nos principais destinos emissores e trabalhar a infraestrutura e capacitação da mão de obra, além de investir em tecnologia.
Diante dessas particularidades, especialistas são unânimes em dizer que o foco para obtenção de melhores resultados em 2023 para a hotelaria deve ser a diária média (DM) e não a ocupação. A demanda crescerá menos em 2023 e a estratégia de incremento de receita será direcionar esforços para recuperação do valor da DM, que ainda permanece abaixo dos anos anteriores à pandemia, principalmente no perfil corporativo. A previsão de aumento em 2023, em relação a 2022, que se aponta é de 2% a 3% para ocupação média e 10% a 15% para Diária Média, sempre considerando os aspectos de cada destino. É por conta desse cenário, com tantos pontos positivos, quanto questões complexas a considerar, que o otimismo para 2023 deve ser cauteloso nas projeções de receita e de crescimento.
Por Franklin Mira, CEO da Téssera Hospitality. Artigo publicado na edição de junho 2023 da revista Bahia Econômica.